Histórias de Escárnio e Maldizer
NOTA: Vamos publicar nos próximos dias, histórias de ficção, onde aplicaremos palavras utilizadas na nossa região, termos em desuso e outros escritos da maneira como se diziam. Uns já em fase de esquecimento, outros ainda actuais, fizeram com que um grupo de amigos à mesa do café ou em" conversas de rua, fossem relembrando tais palavras e frases que pensamos reunir, para as perpetuarmos em Português mal "dizido".
O Albano Marreco, descoIhambado como sempre, passava os dias, feito charcuteiro, pelas ruas da aldeia.
Homem grosso, matarruano e corrieiro, feito catrapão, levava de boca em boca os escândalos da sua terra.
De trato rude e sarrento, vestia sempre calças de sarrubeco aconapadas, e disfraldado, mostrava as pilhencras da barriga, como sabolão que era.
Agarrado à côdia, o matrafão largava fel que nem cão de Niza, por mor dos Homens lá da terra, que deveras o atazanavam.
Acachapado, o pisconoiteiro, era atravessado da moleirinha e, em noites de borracheira, o colhais do Albano, fazia catrefas de moafas, tal fragusteiro na galdeirice.
Camafeu como era, emborcava copaneiras, acompanhadas de morrinhas e, minado pela boída, ainda se alembra da carta que enviou num inglopes amarelo para o Caixidré em Lisboa, pedindo imprego na estiva.
Espremendo-se-Ihe o totiço, não deitava chorume, meio arrelampado, escumava às vezes que nem cevado abarracado.
O pichote e pidorreiro era um chirinéu a valer.
Em tardes de maranconia, emborcava bagaceira, até lhe chegar com o dedo, e passava noites sem pregar olho, atacado pela vazêra.
Em apostas era mestre, mas só sossegava depois de ter ido ao misso. Depois, dava o que dava!
Porrada e solipas de meia noite, acabando o deslambido do Albano entre mãos que lhe apertavam o funil.
Atramocado e ranhoso, caladinho que nem um rato, enfiava o rabo entre as pernas e lá seguia rumo ao chiqueiro onde vivia.
A casita era pequena. Uma mesa desconchavada ao canto. A cantareira com um pé concho, alberga meia dúzia de copos de rismalte, com mossas por todo o lado.
À porta da casa terreia, uns tamancos mal amanhados, dão um ar de labrego à situação, no meio de uma carrambolada de tralhas espalhadas pelo chão.
Em noites de aperto, ia a campo, com as calças na mão e aos saltitos de dor.
Espojava-se na enxovia e adormecia de imediato, roncando aos quatro ventos, tal panela de ferro cozendo batatas lapacheiras com coives.
De manhã, não se alembrava peva de nada. Um olho à belenenses, um dente dos poucos que já tinha mais para lá do que para cá, parecia o São Lázaro, o cacanoso do Albano.
Alevantava-se dum salto, arrotando por cima e por baixo e ala moço que a vida é cá fora.
Na taverna do Ti Chico, ainda com palhas por todo o corpo, escorrapichava de uma só vez meio cortilho bem medido, limpando a boca à cota, ao mesmo tempo que puxava do mata-ratos, que acendia à pederneira de pitróleo. Ajeitava-se puxando as calças e o nagalho que as segurava, seguindo marcha de cigarro nos bêços, assustando garotos que brincavam às carrapichas.
Novo dia começava. Nunca se lhe conheceu mulher. Há quem diga, que em tempos esteve amaltado lá para os lados da serra. Mas ela, segundo consta, pôs-lhe os tarecos, e não só, à porta. Vá-se lá saber porquê!
Está velho o Albano. Até os cães lhe mijam à perna. Quando novo, era um aldeaga do carraças. Agora, pouco já abre a cocharra como fazia antigamente.
Punhetices da vida!
Zeca Elias
Colaboração:
Máximo, Nobre, Zé Mariano e outros amigos
O Albano Marreco, descoIhambado como sempre, passava os dias, feito charcuteiro, pelas ruas da aldeia.
Homem grosso, matarruano e corrieiro, feito catrapão, levava de boca em boca os escândalos da sua terra.
De trato rude e sarrento, vestia sempre calças de sarrubeco aconapadas, e disfraldado, mostrava as pilhencras da barriga, como sabolão que era.
Agarrado à côdia, o matrafão largava fel que nem cão de Niza, por mor dos Homens lá da terra, que deveras o atazanavam.
Acachapado, o pisconoiteiro, era atravessado da moleirinha e, em noites de borracheira, o colhais do Albano, fazia catrefas de moafas, tal fragusteiro na galdeirice.
Camafeu como era, emborcava copaneiras, acompanhadas de morrinhas e, minado pela boída, ainda se alembra da carta que enviou num inglopes amarelo para o Caixidré em Lisboa, pedindo imprego na estiva.
Espremendo-se-Ihe o totiço, não deitava chorume, meio arrelampado, escumava às vezes que nem cevado abarracado.
O pichote e pidorreiro era um chirinéu a valer.
Em tardes de maranconia, emborcava bagaceira, até lhe chegar com o dedo, e passava noites sem pregar olho, atacado pela vazêra.
Em apostas era mestre, mas só sossegava depois de ter ido ao misso. Depois, dava o que dava!
Porrada e solipas de meia noite, acabando o deslambido do Albano entre mãos que lhe apertavam o funil.
Atramocado e ranhoso, caladinho que nem um rato, enfiava o rabo entre as pernas e lá seguia rumo ao chiqueiro onde vivia.
A casita era pequena. Uma mesa desconchavada ao canto. A cantareira com um pé concho, alberga meia dúzia de copos de rismalte, com mossas por todo o lado.
À porta da casa terreia, uns tamancos mal amanhados, dão um ar de labrego à situação, no meio de uma carrambolada de tralhas espalhadas pelo chão.
Em noites de aperto, ia a campo, com as calças na mão e aos saltitos de dor.
Espojava-se na enxovia e adormecia de imediato, roncando aos quatro ventos, tal panela de ferro cozendo batatas lapacheiras com coives.
De manhã, não se alembrava peva de nada. Um olho à belenenses, um dente dos poucos que já tinha mais para lá do que para cá, parecia o São Lázaro, o cacanoso do Albano.
Alevantava-se dum salto, arrotando por cima e por baixo e ala moço que a vida é cá fora.
Na taverna do Ti Chico, ainda com palhas por todo o corpo, escorrapichava de uma só vez meio cortilho bem medido, limpando a boca à cota, ao mesmo tempo que puxava do mata-ratos, que acendia à pederneira de pitróleo. Ajeitava-se puxando as calças e o nagalho que as segurava, seguindo marcha de cigarro nos bêços, assustando garotos que brincavam às carrapichas.
Novo dia começava. Nunca se lhe conheceu mulher. Há quem diga, que em tempos esteve amaltado lá para os lados da serra. Mas ela, segundo consta, pôs-lhe os tarecos, e não só, à porta. Vá-se lá saber porquê!
Está velho o Albano. Até os cães lhe mijam à perna. Quando novo, era um aldeaga do carraças. Agora, pouco já abre a cocharra como fazia antigamente.
Punhetices da vida!
Zeca Elias
Colaboração:
Máximo, Nobre, Zé Mariano e outros amigos
(Publicado no Jornal "O Zêzere")
Comentários
Parabéns ao Sr. Zeca Elias, e aos Senhores Zé Máximo, Zé Nobre, Zé Mariano, (e pá, é tudo Zé`s, lol) e a todos os amigos.
Esses tempos e essa doutrina linguística já está em desuso, mas que fica sempre na memória lá isso fica, e já agora parabéns por terem tido a ideia de o transcrever neste post, fica para mais tarde recordar.
Abraço ( Paulo Duarte ).
"... que acendia num isqueiro a petróleo, accionado por uma pederneira...
Já agora, definição de PEDERNEIRA no Dicionário: .." Silex que pode produzir faísca(lume), quando em atrito com peças de metal. Muito utlizada em peças de artilharia, espingardas e isqueiros.."
Contudo, e posso estar enganado, mas quando os nossos conterrâneos mais antigos falavam da pederneira ( óbviamente quando pretendiam acender um cigarro ), estavam a referir-se ao isqueiro.
Mas não garanto.
Obrigado pelo reparo e um abraço.
Quanto ao texto acho-o engraçado embora ache o tempêro um bocado pesado. Estes ingredientes davam para cozinhar um maior número de "estórias". É a minha opinião.
Um abraço das terras de Basto.
À conversa com pessoal da nossa terra, lembrei-me de incluir neste espaço um Post com este Título.
Entretanto alguem de "adiantou", eheheh, por isso em vez de post, passa a comentário
Pedi ajuda a quem sabe, para saber que título deveria por, e aí está!
Pode ser um espaço, onde quem se lembre e quiser, possa incluir palavras e termos usados há muito tempo na nossa terra, e que vão caindo no esquecimento.
A ideia não é nova, pois sei que há por aí pessoal que já em tempos começou a fazer uma recolha dessas palavras, e a lista ia já bastante longa.
Quem sabe não vamos criar um dicionário de "dialectos do Ferro"?
Lembrei-me deste tema, pois um amigo usou por aqui o termo arremedo
Arremedo, quererá dizer imitação.
Tás a arremedar-me? Já te vou arrecusar às autoridades!!!!
Vá lá então, pessoal anónimo, registado e outros que mais, conforme se vão lembrando, ponham cá pra fora essas palavras que muito nos vão divertir e fazer recordar..
Claro que a rapaziada mais nova, não se vai lembrar disso, mas pelo menos que fiquem registadas.
Perguntem às pessoas mais antigas, que essas sim, é que sabem muitas!
Aqui vai mais uma:
Qualquer dia, se a Junta não arranjar as ruas da freguesia, isto vai parecer um "Lapacheiro"
Se o administrador não achar bem, ou se achar algum interesse nisto que o apague ou faça um post com ele.
Fica à sua consideração.
Eu é que não o faço, pois não quero estragar este Blog que muito trabalhinho deu ao administrador :)
Folgo muito tambem em ver por cá um comentário do homem das terras de Basto....Há quanto tempo, amigo!
Desde que fizeste uns comentários no Post da TOPE, nunca mais por aqui vieste.
Benvindo.
Então aqui ficam os tais nomes:
TI JOÃO MELINDRO - (nunca soube o nome dele) - O homem que consertava latas, barro e penicos quer fossem de pobres ou ricos!Até a sua morte deu que falar.
TI CHICO COBRA (Tambem não me lembro do nome próprio) - O homem que pela sua acentuada gaguez falava a cantar!
SILVINO - o homem que.... sei lá tantas coisas!
ZÉ GREGÓRIO (ipotes?) - o homem dos poços, minas e "dilamite"
VITOR BRÁS - o homem dos foguetes, e acompanhante do prior na visita Pascal com a cruz e respectiva saca da massa.
ZÉ LUCIO - o homem que veio de longe e que desaparecia de vez em quando, caractrístico pelo seu modo "fanhoso" de falar.
TI JOÃO BEFE - o homem que muitas histórias protagonizou.
Todos eles, infelizmente já desaparecidos (Parece que o mais recentemente foi o Zé Lúcio) acho que o Zêzere traz por lá uma referência a ele.
Muitas mais pessoas que nos trazem certas recordações haverá por referir. Neste momento é dos que me lembro.
Se souber, e quiser, faça referência a eles e conte-nos histórias destes que ficarão para sempre na nossa memória.
Aqui vai então, já uma do nosso querido e há muito desaparecido SILVINO:
Certo dia na célebre Café Central,estava uma senhora da "alta" sentada a beber o seu café de cevada.
Era uma senhora de porte bastante forte.
Vai daí o SILVINO, senta-se ao lado da dita senhora, pelo que foi logo repreendido se não se envergonhava de se sentar ali namesa daquela senhora.
Resposta, pronta, na ponta da lingua como era seu timbre (embora muito leeeentoooo)
Qual o problema? Eu lá do Sr Rolo, tambem estou habituado a sentar-me ao lado de sacos de batatas.
Muitas histórias e estórias poderão ser aqui relatadas, pois sei que muita gente ainda tem lembrança delas.
Basta querer que estas fiquem em registo, para mais tarde serem recordadas por quem vier a seguir,
Inté!
Manel Pachacho, era um ingricultor arrebintado, mas muito dado à ingricultura..... devagarinho!
Baixote e anafado, vermelhusco do carrascão, tinha a vida montada num pequeno chabarneco. Herança de sê pai.
Ao longo de quarenta anos, orgulhava-se dos haveres que conseguira.
Uma carroça com pinéus, encontrados numa barroca, travões de andar à roda, puxada entre varais pela Ruça, uma mula que quase o viu nascer.
No curral, uma porca aleijada¬ duma pata, por uma arroxada do bácro do Manel, para se vingar do corrixo, que um dia com a focinheira o trincou, quando lhe metia o arganel. Mas andava sempre à rasca.
Um belo dia, ao mexer num assoprêro, as bichas ataca¬ram-no deveras e dando às da Vila Diogo, não viu o rego, espatou uma topadela e de certo foi trampaço.
Tinha também um burreco raquítico que era o ai Jesus do Manel, quando bem o aparelhava.
A almotricha, roída pelo próprio, mostrava a palha em tempos posta pelo albardêro.
A cilha muito apertada, punha a aventesma aos gases, em tardes de correria.
Quando a lanzêra largava o Manel, cangalhas para cima do burro, que carregava de istrume do vivo, sem antes dar umas chibatadas no marrano que nunca morreu de amores pelo dono.
Como companheiro, o fádista. Cão rafêro e tinhoso. Ao pobre do bocho-bocho saíam-lhe as costelas da pele, de tanto chêrar e nada comer.
As vezes era lindo ver o Manel. De garruço às três quartas e safões de céfador, carregava o burro segurando a carga com as cordas de encrer e sobrecarga. Mas o animal não era de graças. De quando em vez alevantava as trazêras, escoiceando o pobrezinho do Manel, que nem as nalgas sentia.
Depois da dor passar, Ah catrino, trabalhava o arroxo, chegando até um dia a aventar a pobre alimária por uma barroncêra abaixo.
Andava meses desman¬chado o Manel e desqua¬drilhado o animal! No dia a dia o Manel, fazia de quase tudo e de quase nada.
Apanhava carusma e ca¬gamelos e uma olivêrita lá ao canto dava zitonas, galegas pra curtir. No pinhal apanhava carcochas e gravatos para o Inverno. As gestas eram para a cama do vivo.
A mulher do Manel, a ti Barbara Pachacha, não era flor que se chêrasse. Matrá¬cula e bem constituída de carnes, dava ordens lá em casa e o Manelito baixava as antenas se não queria ir de mangulhão.
Entre dentes o Manel chamava-lhe remelada e só lhe apetecia se pudesse, arriar naquele cangalho.
A mulher nunca alcançou. Por ruindade, dizia ele. Pela falta, dizia ela. Mas lá se equilibravam à sua maneira.
Ao fim de um dia de pouco trabalho, o Manel parecia o gongulhana.
Ao vê-lo de portinhola aberta, a ti Bárbara lá dizia: - não faz mal; não pode fugir o que lá não há!
Às vezes íam merecer. Mas o Manel não gostava de horários certos, nem apanhar corrióis. Gostava sim, de armar custis, apanhar aú¬dias e olhar para a única çardeira que lá havia. As belancias nasciam ao Deus dará, mas o monco de peru do Manel estava sem¬pre à espera que elas cres¬cessem. Sempre moucas as ranhosas!
Na época das vindimas, ajudava um vizinho na mudança da alquetarra, na mira de um calicezito de aguardente.
Para comida abundavam as batatas porqueiras e o feijão grande, cujo os cascabulhos enfeitavam as moreias espa¬lhadas pelos alqueves.
O Manel dizia que a mulher só lhe dava mestelas que lhe desarranjavam os entrefolhos.
Ela mandava-o olhar para o chambaril que há anos não cheirava marrano.
Mesmo assim, a sacanita gostava dele.
Sempre era uma companhia!
Zeca Elias
Colaboração: Máximo, Nobre, Zé Mariano e outros amigos
" O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitar o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com o auxílio a utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu.
O jogador Micolli procurou destravar-se com o recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto, mas o adversário não o desagarrava.
Quando finalmente atingiu o desimpedimento desalargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe.
Derivado a essa atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva."
Nota : Esta leitura é puramente ficção, mas não é difícil imaginar pérolas do género, pois li alguns relatórios muito semelhantes ao longo destes anos de Futsal. ( Paulo Duarte )
" O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitar o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com o auxílio a utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu.
O jogador Micolli procurou destravar-se com o recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto, mas o adversário não o desagarrava.
Quando finalmente atingiu o desimpedimento desalargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe.
Derivado a essa atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva.
Nota : Esta leitura é puramente ficção, mas não é difícil imaginar pérolas do género, pois li alguns relatórios de arbitros muito semelhantes ao longo destes anos de futsal. ( Paulo Duarte )
- PAVIEIRA : Parte superior duma porta ou janela.
- PALHIÇO : palha miúda.
- PALMO : medida de mão estendida desde o polegar até ao mindinho.
- PANAL : pano branco que servia p/tapar a massa ( do pão ) na masseira.
- PASTO : comida p/o gado.
- PATANHEIRO: chuva miudinha.
- PAVEIA : pequeno monte de erva ou mato que cabe debaixo dum braço.
- PAVIOLA : espécie de maca, p/transportar pedra / estrume e até os mortos para a cova.
- PECO : seco, infrutífero. que não nasceu. ( se tocássemos nas botelhas e n´outos fruto pequeninos pecavam ).
- PEÇONHA : veneno ( das cobras, sapos e outros ).
- PEDRISCO : pedra pequena, seixo.
- PEGÃO : pilar.
- PELA : bola de jogar, queima
- PENICO : bacio, " senhor doutor ".
- PERNÃO : impar ( no jogo do par ou pernão ) .
- PERNIL : bicos que os sacos ( sacas) têm depois de cheios, e por onde é mais fácil pegar, ou parte mais fina da pata dos porcos.
- PESTE : raio, doença, mal.
- PIA : vasilha de granito ou madeira onde se deita a vianda aos porcos, artesa.
- PICA : pequena broa.
- PÍNCARO : pé de frutos ( cerejas, peras ... ) .
- PILA : ah.ah. !!! como se chamavam as galinhas p/o poleiro ou p/virem comer.
- PILADA : castanha seca e descacada.
- PILAR : poste do telefone ou luz eléctrica .
- PILHEIRA : espécie de armário ( cavado ou feito nas paredes), cantareira, paus ou madeira empilhada.
- PINTCHAR : deitar fora, aventar.
- PINTCHO : ferro que faz parte da fechadura, o que acarreta ( dá serventia ) ao ferreiro. ( ou marteleiro nas minas ) .
- PINGUELHO : mal vestido.
- PINOTE : queda, trambolhão.
- PINTOR : primeiros coloridos que aparece nas uvas e azeitonas...cerejas.
- PIONADA : ferroada que apanhavam os piões ( c/bico d´outro pião ), quando perdiam o jogo.
- PIORRA : pião mal feito de pinheiro ou castanho.
- PODÃO : espécie de roçadoira, pessoa desajeitada.
- POIA : pão destinado a pagar a forneira , mulher gorda.
- POIO : penedo, pedra grande .
- POLA : rebento novo das arvóres , ( trepolo ) o rebento do mato depois dos incêndios, muito apreçiado pelas cabradas.
- POLINA : miudagem, garotada. ( doença dos míscaros e cogumelos ).
- POUSO ou POUSADOURO : sitío onde se descansava dos carregos, muro feito em pedra ( á altura das costas ou cabeças ).
- PÚCARO : vaso ou pequeno copo de barro p/beber água .
- PULO : salto
- PÚTEGA : nasce na raíz dos sargaços.
- QUEIMA : o jogo das garotas ( na escola )espécie de andebol sem balizas ; incêndio .
- QUELHA : rua muito estreita.
- QUINTCHÓ : pequeno espaço para semear.
- RAÇA : qualidade.
- RALAR : incomodar, chatear.
- RALO : espaçado, espécie de grilo que ataca as jovens plantas do milho.
- RABIÇA : a parte onde o lavrador segura no arado.
- RANINHAS TE PARTAM : diabos te levem .
- REBÊRA : ribeira.
- REBOLEIRO : castanheiro novo antes de ser enxertado, lugar da piscina.
- REBOLO : seixo redondo.
- REBOUTELHO : ao restos duma mercadoria, refugo.
- REBUSCO : a última colheita . os que restou esquecido ou perdido ( uvas..castanhas.. ) .
- RECEBER : os noivos quando se casam vão receber á igreja receber-se....
- REDÔLHO : baixote, que não cresceu. ( rodas baixas ).
- REFOGAR : para fazer um cabo de enxada, passava-se pelo fogo para eliminar nós e curvas.
- REGUEIRA : o sulco escavado nas rochas pelas rodas dos carros de bois.
- RELAIXADO : avariado, pessoa desleixada.
- REMOER : mastigar, o que fazem os ruminates quando estão em descanço...cabras...cavalos...vacas
- REMOÍNHO DE VENTO : pequeno furacão .
- RENOVO : as colheitas...milho, batatas, trigo...
- REPRIGA : rapariga.
- RESPIGO : minúsculo cacho de uvas ou parte dele.
- RÊS : animal ( cabra, ovelha, pessoa má ) .
- RESINEIROS : vinham trabalhar na colheita da resina, tinham fama de colher " fruta " que encontravam próximo dos pinhais.
- RETESADAS : como ficam as tetas das fêmeas se não se tirar o leite.
- RIBA : sobre, por cima, em cima .
- RILHAR OS DENTES : ficar zangado.
- RISCADO : tecido fino-às-riscas ( muito usado para camisas para os Domingos ).
- RODILHA : argola feita de pano, usada pelas mulheres debaixo dos carregos á cabeça.
- RODO : utensílio usado para tirar o borralho do forno de cozer o pão.
- ROLHEIRO : monte de molhos de cereal ...trigo, centeio, cevada.
- ROMANCE : parte da cheia ( da ribeira ) onde ficam águas calmas.
- RONHA : manha.
- ROSMANO : rosmaninho.
- RUNEIRA : sujidade encardida.lixo
Quando tiver mais tempo , postarei mais, agora vou almoçar. ( Paulo Duarte )
Aqui fica uma que me lembrei:
- LAPACHEIRO - Lamaçal
(Batatas de Lapacheiro) - Batatas "guizadas" com algum "conduto" com bastante molhanga
Lembrei-me desta, pelo facto de dizeres que ias almoçar.
Será que comeste umas batatitas de "lapacheiro".
Quem me dera! Bem boas!
Tó Elias
- LABARDO : mandrião
- LÁBIA : palavreado, léria
- LABERCA : faladora
- LABREGO : homem grosseiro, laparoto
- LACRÁRIO : lacrau
- LADRONA : maliciosa, mulher ladra
- LAÍNÇA : que não come, magra, magricela
- LAMBÉRUDA : prova, coisa cobiçada
- LAMBARÉU : língua
- LAMBETENA : sabidona, espertalhona
- LAMBARISCA : que rouba, muito vivo ( animal )
- LAMBISGOIA : pessoa esperta
- LAMÚRIA : queixa, choradinho
- LANAÇA : cabeludo
- LANDUM : conversa fiada, galheta, léria, sem valor
- LAPATCHERO : charco de água, poça
- Lapada : pedrada
- LAPAROTO : coelho novo,rapaz gorducho
- LAPEJO : caça ou pesca clandestina
- LAPÚS : sujo
- LARACHA : conversa fiada
- LARÊTA : criança esperta, rebelde
- LARICA : fome, joio, planta brava e daninha
- LARPAR : comer, matar, papar
- LAVADOIRA : pedra lisa e grande onde se lavava a roupa
- LAVARINTO : algaxarra, confusão
- LARINA : esperta
- LÉRIA : palavreado, lábia
- LODEIRO : chão grande
- LINDRICA : espertalhona, que tem léria
- LINGUARUDA : amiga de falar
- LUDRA : turva
- LUDREIRA : água suja, porcaria
- LUDRIEIRO : local com lama
- MALGA : tigela
- MALHO : machado
- MANIAR : quando um animal aborta
- MANJADOIRA : local mais alto nos currais onde se colocava a comida dos animais
- MANJARONA : mulher alta, mal ajeitada
- MANJONA : cabra que dá muito leite
- MARRONA : porco
- MATALOTO : parvo , estúpido
- MEDRAR : crescer
- MEIXERICA : pessoa que mexe
- MEJARELITO : coisa pouca, pinguito, pequena quantidade
- MEOTE : peúga, miote
- MEXÓRDIA : mistura, mixórdia
- MINJENGRA : pessoa fraca e pouco desenvolta
- MOTCHA : cabra sem chifres
- MOTCHO : que não corta
- MOINANTA : rapariga
- MORDEDELA : mordedura, mordidela
- MOUTCHO : ave de rapina, banco, sem chifres
- MOUTCHAS : às escuras
- MURTA : multa, planta aromática do Mediterrâneo
- MOGANGA : variedade de abóbora
- MOITA CARRASCO : interjeição que indica que não obteve resposta
- MOLEIRA : a abóboda do crânio
- MOLHADURA : rodada de copos que se pagava nas tabernas para comemorar qualquer facto ou ocorrência
- MORGADO : filho único
- MOUCO : surdo
- MATCHORRO : conjunto , muitos pinheiros / árvores juntas
- MALAÚ : despenteado, com cabelo grande
- MALHADIÇO : teimoso
- MALHÃO : feixe de palha que se atava nos pinhoeiros para maracr uma testada
- MALINA : doença, mal
- MANOJA : punhado de folha ou feno apertado numa mão, paveia
- MÃOZADA : cumprimento , ( passo bem )
- MAQUIA : ( levar a ) - levar porrada
- MARRAFA : penteado com franja para a testa e carreiro
- MARRÃO : vinho ordinário, que faz doer a cabeça, estudante do ( empinhanço )
- MARTELÃO : cabeçudo, pouco esperto, cabeça grande
- MARTOLA : cabeça, tola
- MATÉRIA : pus, águadilha
- MECHEIRO : rastilho de bomba
- MELENA : barabas de milho, cabelo comprido
- MERÇÓ : moela
- MESSAGRA : dobradiça
- MESSEIRA : pedreira
- MIAU : bolo untado com mel dado nas malhas
Para agora chega, até breve e com muito mais. ( Paulo Duarte )
Vargalhudo e arrogante, o raças do palafrão, tomava-¬se cagaceiro, sempre que se falava em bruxas.
Em conversas entre a malta, estava sempre atento, olhando de oviés, mesmo quando orinava contra a parede.
Estas coisas dos maus olhados, davam-Ihe cabo da catadura e andava por vezes cachondo, uma porrada de dias.
Já em galfarro, ronhento e trapeço, ficava choné, quando os catraios da laia dele, mijando na terra faziam argamassa cantando: seca seca majareca.
Tudo o que a cachimónia não abrangia, deixava o Inselmo trotilado, que mais parecia um mosca morta, nestas coisas de mistério.
Ecoefectivamente como diria Zézito Mariano, um dia lá no baile da Paróquia, com o Inchasmo da dança, deu um jeito à espinha, gritou que nem um capado: Ai Jasus que eu fico assim!
Quase desmaiando, o falcato, amarelo que nem um pêdo, cobriu-se de suores frios e logo ali agomitou sem antes ter levado estampilhas dos colegas que o tentavam animar com medo que o Inselmo caísse de cravelas.
Escarrapachádo numa laja e já lusco-fusco, viu passar um gato preto que o deixou arrelampado.
Já nessa manhã o cam¬bulho do Inselmo reparara que era treze, sexta-feira.
Mesmo com dores, o chamiço foi ao café beber um grogue, para ver se acalmava.
Mas qual quê, o chamicêro cada vez mais nervoso resol¬ve voltar a casa. De chanatas calçadas o conanas apagou as luzes e acendeu um coto de vela gue colocou numa mesa desincolatrada.
Ao lado numa cachaporra triga espatou um facalhão. Foi buscar um prato preto, coisa rara de se ver, pôs-lhe agua da bilha e do pote tirou azête.
Sentou-se, bateu com os nós dos dedos na mesa deitando uma gota de azeite no prato da água.
O conapas, aforrou os olhos, tornou à aforrar mas nada se passou a, não ser as dores nas cruzes que aumen¬tavam e os nervos que o deixavam com soltura.
Astreveu-se numa decisão! Não se admete este sofrimento. Amanhã vou ao indrêta.
Na manhã seguinte, o pobre do Inselmo, alugou o carro de praça e lá foi ao homenzinho. Este, ao vê-lo, cruzou-lhe os braços atrás das costas e esticou-o a valer.
O Inselmo não gostou lá muito da posição mas aguentou. Levanta-lhe os braços e tentou unir-lhe os polegares.
Mais quatro ou cinco sacu¬Iões, estalos por todo o lado, deu três berros o farrapilha e sentiu-se melhorzinho depois do homem o ter esfregado com pomadada e o enfeixar com ligaduras, mascarradas das dedadas.
Voltou a casa e logo nessa tarde, chegou-lhe praga¬manato e apanhou uma gatêra o badaneco.
Tal foi a moenga, que o cravoêro do Inselmo, rodo¬piou sobre si, deu uma coquinada na parede, ra¬nhou-se todo que mais parecia a chapeleta de um pobre.
Na valeta, ficou a tarde toda a cozer a mona e com a têmpera do sol, acordou isgroviado sem saber onde era o norte.
Mal se podia mexer o garganêro. Levaram-no a casa. Cismou e jurou: Ama¬nhã vou à Bruxa. Pediu mais um frete ao taxista e entre ais e uis lá chegou à benzelhona.
A sala era pecachichinha. A tapar a janela, uma manta de orelos, quebrava a luz e escondia os plásticos que substituíam as vidraças. Uma lata de tinta velha cheia de um liquido negro e peganhoso. A um canto, um gato preto numa enxerga sebentosa. A cera de velas gastas, haviam pingado o chão falto de ripas podres do tempo.
A velha fez-lhe a ficha num instante: Como se chamava, que maleitas já tinha tido, se era casado e tinha filhos, enfim o que o trouxera ali?
Que sim. Que se chamava Inselmo, era solteiro e bom rapaz, que sofrera de um cobrão em garoto e que viera ali porque ultimamente nada lhe corria bem.
A namorada fugiu-lhe para Lisboa não se sabe porquê nem com quem; que trabalho havia pouco e dinheirito muito menos; que caía muitas vezes sem saber porquê; pontadas por todo o lado, enfim um desassossego do caraças.
Mas o pior era a noite. Vinham-lhe coisas à mona, sentia vozes e dormia aos solavancos.
A benzilhona ouvia com atenção, mandou-lhe tirar a camisa e deitar-se na en¬xerga. Assim fez.
O gato deu um salto asso¬prando. Ela esfregou-o com vinagre tinto ao mesmo tempo fazendo rezas, que o caga¬nitas do Inselmo não perce¬bia, além de cruzes canhoto e arrenega-te satanás.
Em seguida pegou na lata e besuntou-lhe os quadris dando-Ihe uma valente esfre¬gadela. O banana ficou engazulado.
Mandou-o levantar, sentar¬-se, e de imediato leu-lhe a sina: o que você tem é o espírito de algum antigo, anda desmanchado e tem um olho de sol.
Foi à cozinha, que era um coxicho, ferveu azeite que colocou em cima da mesa. Olhando para o prato, estre¬buchava gritando: Fora que¬branto... fora quebranto...!!
O gadunhas do Inselmo estava todo borradinho.
De seguida, pôs-lhe um pano na moleirinha e colocou-¬lhe um copo de água, enquan¬to enfiava uma rodilha no dedo do Inselmo.
A água borbulhava en¬quanto que a velha, de olhos fechados, batia os dentes e esticava por todo o lado.
O Inselmo sentiu então água quente perna abaixo mas não era do copo, não senhor. A dona pediu-lhe um retrato que tirou da sarnosa que entregou.
Nesse tempo como era novo e composto o marmanjo do Inselmo!
Olhando para ele e para o retrato a senhora entre aloas e rezas foi dizendo: Nunca arranques postelas das feridas; Nunca cuspas para o ar; Bebe cerveja preta com canfora; Esfrega a cara com a fralda da camisa; Vai em paz, amanhã já não tens males.
E o pandilhas lá saiu. Entre o susto e o alevio da carteira, entrou no carro e foi para casa. Até lá nem tugiu nem mugiu.
Passados dias o Inselmo melhorou, mas foi coisa de pouca dura.
Voltava a cair sem cessar; a perder a razão a cada passo; a ouvir vozes ao longe; a receita era pouca... o vinho é que era muito.
Zeca Elias
Colaboração: Máximo, Nobre, Zé Mariano e outros amigos
- BÁCORO : porco
- BADOFERA : pessoa suja
- BARBILHO : empecilho que se coloca na boca dos cabritos quando se querem criar e os impossibilita de mamar
- BARDO : local onde se coloca o estrume
- BASBACA : pasmada
- BATOREL : chão pequeno
- BEÇUDA : com beiços grandes , zangada
- BERITO : ventas, cara
- BESTUNTA : teimosa
- BONDA : basta, chega, é suficiente
- BORNEDERA : ao borralho, ao lume
- BORRACEIRO : nevoeiro, chuva miúdinha
- BOTAR : deitar
- BRAGEIRAS : beringelas
- BROCELITO : bocadito
- BUZEIRA : excremento mole de aves
- CATCHAPORRO : pau, moca
- CALDUDO : sopa de castanhas cozidas em água
- CANGALHAS : armação que se coloca nos burros para facilitar o transporte
- CANIÇO : local sobre a lareira, em ripas, onde se secavam as castanhas
- CANTARERA : cantareira, móvel para por os cantaros de água e loiça
- CARANTONHA : cara feia
- CATRAMONAS : zangada
- CATRAPÃO : que cai frequentemente
- CHAMBRE : blusa
- CONDUTO : acompanhamento do pão
- COCHA : o mesmo que concha, feita de cortiça
- CONHA : ramo de giesta seca para limpar o centeio
- CONHO : raio
- CORNETCHO : fungo que se forma na espiga do centeio e que antigamente era muito bem pago pelos farrapeiros. o mesmo que cornicho ou chornecha
- CORRAS : tiras de pernadas novas de castanheiro que os cesteiros usavam em vez de vime
- CORREÍCE : alcoviteirice
- CORREIO : alcoviteiro
- CORRÉCIO : vadio
- CORTELHO : corte , curral pequeno
- CRAPANTA : trapalhona
- CRAVELHA : peça de madeira que fecha as portas dos palheiros
- TCHAPÚS : chapús, buraco da presa por onde saí a água
- TCHENDRA : passarinho, pessoa que fala muito
- TCHENOUCA : tonta
- TCHEROUNELAS : cantigas que valem pouco
- TCHINGUITA : um pouco de bebida, de aguardente
- TCHONCHA : maluca
- TCHOUCHA : ingénua, choucha
Para agora é tudo até breve. ( Paulo Duarte )
Parabéns aos seus idealizadores!
É realmente necessário fazer registros destes para resgate da memória cultural. Ainda mais nesta época em que a internet vem estropiando criminosamente o português.
Eu sou de São Luis do Maranhão, Brasil, região colonizada por portugueses do Norte e açorianos,
e estou escrevendo um trabalho sobre a influência do mirandês e de dialetos da região Norte de Portugal na cidade e naregião onde nasci.
Um abraço a todos esses "quaije" conterrâneos, e "bamos" mesmo "prestar reparo" na valorização da nossa "lengua" ancestral.